Round 1

Entre Rounds: entrevista com GoldenBoy

No “Entre Rounds” de hoje, temos a honra de receber um dos maiores nomes dos jogos de luta, o atual campeão do Campeonato de Granblue Fantasy Versus no Comitê Arena 2023 e vencedor do Curto Circuito de Granblue Fantasy Versus: GoldenBoy.

Ele começou sua jornada nos games com títulos como Killer Instinct, Street Fighter 2 e Mortal Kombat, mas foi com a série King of Fighters (KOF) que GoldenBoy encontrou sua verdadeira paixão pelos Figting Games. Hoje, ele é reconhecido como o mestre do “poke” e está aqui para compartilhar suas experiências sobre o emocionante mundo dos jogos de luta. Prepare-se para uma conversa exclusiva e inspiradora com o campeão GoldenBoy.

Beakman: Olá, GoldenBoy! Agradecemos imensamente por nos conceder esta entrevista!

Parabéns pelas suas recentes vitórias no Curto Circuito, realizado de forma online, e no primeiro Comitê Arena, que ocorreu presencialmente, ambas no jogo Granblue Fantasy Versus. Essas notáveis conquistas, sem dúvida, representam um marco em sua trajetória. É uma honra conversar com um multicampeão como você.

Como foi conquistar esses campeonatos e quais foram as principais diferenças, do seu ponto de vista, entre competir online e presencialmente?

GoldenBoy: Boa tarde, conquistar campeonato sempre é bom, revela muito o esforço, sempre joguei off-line, a pressão é maior por ser presencial. Agora, online você conta com a comodidade de não lidar com isso, mas a pressão em busca da vitória é a mesma.

Beakman: E como você gerencia a pressão? Houve momentos em que essa pressão interferiu a ponto de comprometer algum campeonato?

GoldenBoy: Pressão, como em qualquer coisa, temos que aprender a conviver, torneio e pressão sempre vão coexistir. A melhor maneira, na minha opinião, é tentar controlar a pressão, como tentamos controlar coisas como ansiedade, respirar fundo, e saber o que está fazendo ali.

Golden Boy posa junto com o troféu de primeiro lugar de GBVS
Créditos: instagram.com/yuriyfg

Beakman: Você mencionou que as conquistas refletem muito o esforço. Poderia compartilhar conosco como é o seu processo de treinamento e desenvolvimento nos jogos?

GoldenBoy: Acredito que constância nos treinamentos é a resposta. Jogar muito tempo te ajuda a ter resistência, ir ao lab (modo de treinamento dos jogos) vai te dar conhecimento sobre o que se pode ou não fazer, ambos precisam ser equilibrados.

A pessoa precisa saber os pontos que precisa melhorar, se estiver com problemas com AA (antiaéreo), treine o AA, se estiver com problemas na execução, treine execução, se estiver com problemas com alguma MU (matchup, compreensão sobre o confronto entre dois personagens específicos), treine aquela MU em específico, e etc.

Beakman: Interessante. Com certeza abordaremos mais sobre esse assunto mais adiante. Antes disso, poderia compartilhar um pouco sobre como você começou sua jornada com jogos de luta? Quais games você jogou e ainda joga? Conte-nos um pouco sobre sua história como jogador nesse gênero.

GoldenBoy: Minha jornada começou quando saí com meu pai pra comprar um jogo (eu não queria um jogo de luta). Andando pelas galerias do centro de São Paulo, avistei uma fita de SNES. A fita era preta, não imaginava que era um jogo de luta. Era Killer Instinct. Chegando em casa, fui testar… fiquei frustrado, não tinha nenhuma noção do que era, mas não tinha escolha. Era o único jogo novo pra eu jogar, fui me dedicando e compreendendo como se jogava. Logo após, peguei Street Fighter 2 emprestado e comecei a gostar do gênero. Depois conheci Mortal Kombat, e depois King of Fighters, que foi onde eu de fato me apaixonei por fighting games, minha franquia favorita. Atualmente jogo somente Granblue Fantasy Versus, mas arranho um pouco do Street também.

Beakman: Realmente impressionante como um dos maiores players de jogos de luta começou sua jornada com uma compra de um jogo às cegas. 😅 Quanto à sua trajetória até o Granblue, levando em conta que é considerado um jogo de nicho, como foi que você chegou até ele?

GoldenBoy: Sobre o Granblue, tive uma boa expectativa em relação ao jogo desde o início. Achei o jogo muito lindo. Como na época estávamos jogando Mortal Kombat 11 e Samurai Shodown, vi a oportunidade de jogar um jogo novo, e acabei me familiarizando muito com Granblue Fantasy Versus. Achei tudo muito bom no jogo: jogabilidade, gráfico, balanceamento, e personagens extremamente interessantes. Achei o jogo incrível, mesmo sendo delay netcode (sistema de comunicação do jogo pela que atrasa o envio de informações, hoje considerado obsoleto), insisti no jogo, pois sabia que era um bom game.

Beakman: Quais são suas expectativas para a continuação do jogo, Granblue Fantasy Versus: Rising?

Notei que você experimentou a versão de testes beta. Poderia compartilhar suas impressões sobre ela?

GoldenBoy: As minhas expectativas são muito otimistas. O fato do jogo conseguir fundir as plataformas é ótimo, tendo em vista que isso deveria ter acontecido no GBVS.

Prós: balanceamento parece continuar bom; novas mecânicas; online extremamente funcional.

Contras: throw (arremesso) recebeu mais tempo para o oponente dar tech (escape de arremesso) – nunca vi um jogo dando tanto tempo; não ter hkd (hard knockdown, queda pesada onde quem caiu não consegue se levantar rapidamente) após golpes EX (movimentos especiais em versões aprimoradas).

Beakman: A perspectiva de jogadores de console e PC se enfrentarem é realmente empolgante! Você tem enfrentado jogadores de console, não é mesmo? Como enxerga essa oportunidade de enfrentar jogadores de PC e estar imerso em uma comunidade que abrange essa fusão?

GoldenBoy: A perspectiva é muito boa também, pois vou enfrentar players de nível superior no PC, e assim poder melhorar ainda mais o meu jogo. Ter a oportunidade de enfrentar pessoas mais fortes sempre é bom.

Assim como muitos jogadores brasileiros, foi na franquia The King of Fighters que GoldenBoy se apaixonou pelos games de luta

Beakman: A competição entre jogadores de plataformas diferentes certamente impulsionará o nível geral de habilidade do pessoal da comunidade. Mudando de assunto um pouco, você é um jogador que prefere controles do tipo arcade, correto? No mercado, além dos controles tradicionais de console, temos também controles arcade, hitbox e alguns players jogam com os teclados em seus PCs. Poderia compartilhar suas experiências com diferentes controles? Você tem alguma recomendação preferencial ou acredita que cada jogador deve encontrar o que melhor se adapta às suas necessidades e estilo?

GoldenBoy: Controle, para mim, sempre foi algo extremamente pessoal e individual. Acredito que a pessoa tem que encontrar aonde se adapta melhor. Conforme o tempo está passando, os comandos estão ficando cada vez mais simplificados, têm mais atalhos, e hoje temos o controle moderno (sistema de comandos simplificados presente no Street Fighter 6). Caso a pessoa esteja acostumada ao pad, não vejo a necessidade de migrar para um arcade, no caso.

Beakman: Quanto aos controles simplificados, qual é a sua opinião a respeito deles? Você já os experimentou ou utiliza em algum momento?

GoldenBoy: Eu acho que o controle moderno é essencial para a comunidade, acho que esse é o futuro dos fighting games. Tem que abrir oportunidades e acessibilidade para novos jogadores, e jogadores antigos que têm a mente muito boa para jogar, mas não tem a execução apurada. Eu jogo da maneira antiga, e tá tudo certo.

Beakman: É comum que a maioria dos jogadores se especialize em um ou dois personagens em um jogo. No entanto, você tem a tendência de variar bastante entre personagens e ainda manter um alto nível de desempenho com todos eles. Poderia compartilhar um pouco sobre sua experiência em relação a essa variação e sobre como você consegue manter essa consistência de alto nível?

GoldenBoy: O fato de usar vários personagens te dá uma noção básica de seus pontos fortes e fracos. Variar de personagem nunca foi algo pretendido. Granblue Fantasy Versus é um jogo com personagens extremamente carismáticos, tirando o Belial, é claro… Voltando, isso dá muita vontade de testar novos chars, e consequentemente você acaba adquirindo muito conhecimento em relação aos outros personagens. E quando variar, não apenas testar o personagem, se dedicar a deixar o char 100%.

Beakman: Isso mesmo, continue considerando o Belial sem carisma e nunca o utilize! 🤣🤣🤣

(Nota do Shiro, editor do Round 1: o salário do Beakman foi reduzido em 25% após esta declaração e poderia ter sido mais ainda caso falasse mal da Charlotta.)

Quanto a um futuro próximo, há alguma possibilidade de vermos novidades na sua escolha de personagens para futuras disputas? Você está considerando desenvolver habilidades com um personagem que até agora não tivemos a oportunidade de ver você jogando?

GoldenBoy: Atualmente estou treinando a Vira. Ainda em preparo, vai demorar um pouquinho, mas vou dedicar o momento final do game jogando com ela. Vejo muito potencial na personagem.

Beakman: Ao escolher um personagem, quais são os principais fatores que você leva em consideração? Dentre a variedade de estilos e tipos distintos, existe algum que você prefere ou que mais te atrai?

GoldenBoy: As vezes eu olho um personagem lá no cantinho, aquele que ninguém usa, e procuro saber sobre o char. Eu acho muito bom desenvolver um personagem do zero. O Anre, por exemplo, considero hoje um dos meus melhores personagens, vai muito de querer ver o personagem bem desenvolvido.

GoldenBoy acha positiva a adoção de controles modernos como forma de acessibilidade a novos jogadores

Beakman: Retomando a discussão sobre treinamento e desenvolvimento, é inegável que reconhecer nossas próprias deficiências no jogo pode se mostrar um desafio complexo. Trabalhar em áreas em que nos falta habilidade muitas vezes resulta em repetidas novas falhas, o que pode ser, sem dúvida, fonte de grande frustração. Seria correto dizer que esse processo vai além do treinamento propriamente dito, envolvendo também nossa mentalidade e resiliência? Como você enxerga essa interação entre treinamento técnico e abordagem mental?

GoldenBoy: Em jogos em geral sempre foi muito essencial cuidar da parte teórica. Às vezes você conversar sobre o que te afeta negativamente no jogo com outra pessoa pode te abrir novos modos de como lidar com isso. Precisamos aceitar o que temos de errado com o nosso jogo, e o mais importante é largar o hábito que tanto nos prejudica durante uma partida. Em resumo o hábito é uma coisa que mais nos afeta durante uma partida: usar muito tech, fazer muitos invencíveis (golpes que contam com frames de invulnerabilidade, mas que geralmente são desvantajosos se defendidos) a cada WU (wakeup, ao se levantar após ser derrubado), apertar muitos botões fora da framedata, pular muito e etc.

Beakman: O conceito de “framedata” frequentemente parece ser um mistério insondável para muitos jogadores. Você acredita que há algum conselho que possa desmistificar esse conceito de dificuldade, ou é algo realmente complexo que exige um estudo aprofundado? Como você sugeriria que os jogadores que ainda não compreendem muito bem abordassem o entendimento da framedata de forma eficaz?

GoldenBoy: A framedata é algo extremamente relevante em jogos de luta, e é fundamental tê-la em mãos caso queira melhorar no jogo. Quando você tem um melhor domínio da framedata, o jogo se torna mais “macio”, você sente que está fazendo as coisas da maneira certa. Isso torna o seu jogo e o jogo do oponente melhor.

Para quem quer evoluir, a framedata vem antes de jogar em si. Precisamos saber, acho que não tem outro jeito, e muitos jogos já tem a framedata inclusa. No próprio Granblue você consegue ver quando pode ou não apertar um “botãozinho”.

Beakman: Além da framedata, quais outros aspectos você considera essenciais para um jogador evoluir, mas que frequentemente acabam sendo negligenciados?

GoldenBoy: Poder entender o que está acontecendo em uma partida, não ter plano de jogo, não saber o que fazer em um okizeme (situação em que o jogador derruba seu oponente, está com ampla vantagem nos frames e pode aproveitar esta vantagem para fazer novos ataques), por exemplo, não contar com o que o oponente pode fazer. Você precisa saber o que está acontecendo em uma partida, e não precisa ter pressa para acabar a luta: cada round tem 99 segundos.

Beakman: E para jogadores novatos, ou mesmo para aqueles que já estão jogando há algum tempo mas desconhecem muitos desses aspectos que você mencionou, qual seria o seu conselho sobre como eles poderiam se aprofundar nesses elementos, mesmo que alguns sejam desconhecidos para eles? A abordagem tradicional de “sair perguntando” e jogar com outros jogadores para buscar feedbacks é a melhor alternativa? Como você sugeriria que eles explorassem esses conhecimentos menos conhecidos?

GoldenBoy: Hoje temos muito mais informações em relação aos jogos de luta, coisa inimaginável um tempo atrás. Hoje contamos com diversos tutoriais na Internet, mas jogo de luta também tem que ter network: quanto mais próximos estamos de alguém pra jogar, melhor nos desenvolvemos, tiramos dúvidas e nos conectamos.

Beakman: É verdade que, em algumas situações, observar de fora pode levar alguém a se sentir um tanto intimidado em participar de uma comunidade, especialmente se a pessoa não tiver muito a compartilhar inicialmente. Poderia nos contar sobre as comunidades das quais você participa e dar algum incentivo aos leitores que desejam entrar no mundo dos jogos de luta, mas que talvez se sintam um pouco inseguros, questionando se seriam bem recebidos ou se conseguiriam interagir mesmo sendo iniciantes completos? Como você acredita que eles poderiam se integrar e aproveitar ao máximo esses espaços?

GoldenBoy: Acredito que hoje em dia isso precisa ser uma coisa mútua, mas, na minha opinião, o jogador mais experiente precisa abraçar os novos jogadores. Acho que isso faz parte do processo contínuo, renovar a FGC (fighting games community, comunidade de jogos de luta) a cada tempo que se passa, deixar de lado certos orgulhos e “panelas” e fortificar o cenário. Jogador novo precisa ser ousado, curioso, precisam perguntar.

De acordo com o nosso campeão, o estudo de framedata é fundamental para um bom desempenho nas lutas

Beakman: GoldenBoy, assim como os rounds de cada luta têm 99 segundos, nosso tempo para esta entrevista está se esgotando. Admito que gostaria de explorar ainda mais os conceitos que você compartilhou. Por isso, desde já, gostaria de convidá-lo para um segundo round desta entrevista, onde podemos continuar a falar desses temas em um futuro próximo.

Antes de encerrarmos, quero lançar uma ideia curiosa: imagine que nos próximos 10 anos você só pudesse jogar um único jogo de luta e escolher um único personagem para usar. Qual seria o jogo e qual personagem você escolheria para ser seu(sua) parceiro(a) nessa jornada de uma década?

GoldenBoy: Granblue, com toda certeza, e o meu personagem seria com quem eu melhor me identifico, que é o Gran, meio atrapalhado, mas com um dano muito alto, que poderia me ajudar nessa jornada de uma década.

Beakman: GoldenBoy, é com grande satisfação que quero expressar meus agradecimentos, tanto em meu próprio nome quanto em nome do site Round1, por esta entrevista verdadeiramente inspiradora e repleta de informações valiosas. Foi como testemunhar um combo épico no auge de uma final de campeonato!

Antes desse nosso round acabar, quero passar o controle diretamente para você. Como um verdadeiro mestre dos jogos de luta, você tem o poder de finalizar essa entrevista com o mesmo nível de habilidade e empolgação que demonstra nas competições.

Sinta-se à vontade para comandar e compartilhar suas palavras finais com nossos leitores e companheiros da comunidade. Pode falar o que quiser! A arena é toda sua! 🎮🏆

GoldenBoy: Foi muito bom passar esse tempo com vocês. Confesso que nunca pensei em viver esse momento, com esse jogo, e com essa comunidade. Estou bem feliz e otimista com um novo jogo a caminho. Não vejo a hora de pôr as mãos no novo game, e evoluir cada vez mais junto com vocês.

Autor

Continua após publicidade:
Sair da versão mobile