Round 1

Entre Rounds: entrevista com Senienne

No “Entre Rounds” de hoje, estamos animados para trazer até vocês uma conversa exclusiva com Senienne, um mestre dos jogos de luta! Ele começou sua jornada nos campos de batalha do League of Legends e deu o salto para o Street Fighter V por causa de uma aposta entre amigos. Desde então, seu talento e paixão por jogos de luta só crescem.

Além de ser um jogador excepcional, Senienne também já atuou como orientador, compartilhando suas dicas e estratégias para elevar o nível de outros jogadores de fighting games.

Senienne está de olho no futuro dos jogos de luta, já que está sempre buscando novos desafios. Mesmo com o lançamento do Street Fighter 6, ele continua ansioso para explorar e descobrir o que o futuro reserva, especialmente no cenário do Tekken 8, já que é um grande admirador da série.

Preparados para uma conversa tão intensa quanto aquele momento em que você erra o golpe especial na frente do oponente? No “Entre Rounds” de hoje, com Senienne, vamos explorar o mundo dos jogos de luta e talvez até descobrir um truque ou dois – quem sabe eu não aprenda como bloquear aquele ataque que sempre me pega de surpresa? 😢

Beakman: Primeiramente, Senienne, gostaríamos de expressar nossa gratidão por estar aqui hoje para esta entrevista. É uma oportunidade incrível poder conversar com um jogador de destaque como você no cenário de fighting games.

Para darmos início à nossa conversa, poderia nos contar um pouco sobre como você ingressou no mundo dos fighting games? Além disso, para os jogadores que talvez estejam conhecendo você agora, seria ótimo ouvir um resumo da sua trajetória até o momento.

Senienne: Olá, Beakman e pessoal da Round1! É um imenso prazer estar aqui, compartilhando as minhas experiências com vocês. Agradeço pela oportunidade.

Partindo já para o meu primeiro encontro como Fighting Games… Bem, acho que faço parte de um grupo que não era tão conhecido antes, mas agora deve ser bem mais notado: “fugitivos” (no bom senso haha) de outros jogos de equipe no geral. Joguei League of Legends por aproximadamente 6 anos e atingi o maior ranking do jogo (Desafiante), mas a frustração, demanda de tempo por partida e constante estresse me fizeram desistir inteiramente do jogo.

A partir daí, ouvi colegas que tinham consoles e alguns me convidaram a jogar Street Fighter V por meio de uma aposta. Nunca tive um PC com altas configurações, então comprei um PS4 a um preço bacana e comecei a jogar o jogo (puramente na intenção de atingir o Gold em até 15 dias) em função da aposta com amigos.

Ouso dizer que o meu encontro com a Falke só surgiu por conta da pressa ao atingir o rank desejado; como já tinha experiência com jogos PvP, eu precisava encontrar um personagem que se adequasse ao meu estilo de jogo e impusesse o menor número de barreiras de forma imediata. Foi aí que, mesmo jogando com o Ryu por cerca de 5 dias, decidi jogar com a Falke e atingi o Gold em apenas 12 dias de jogo.

Beakman: Bastante curiosa e inusitada a sua entrada no Fighting Games. Sobre a escolha pela personagem Falke, o que te chamou na personagem e em seu estilo de luta, especialmente considerando que ela era uma novata na franquia e não ganhou tanta popularidade como outros personagens?

Senienne: Hm… Acho que fica mais fácil explicar ao comparar tipos de jogo: no League of Legends, eu sempre joguei com personagens (atiradores, em sua vasta maioria) que exerciam controle de rota. Sempre foi o meu estilo preferido de jogo. Ao jogar Street Fighter V, eu tentava aplicar as noções de controle que eu entendia existir no League of Legends logo de cara. Logo quando fui jogar SFV, eu não fazia ideia da popularidade dos personagens; muito pelo contrário, eu escolhi simplesmente porque, logo após testar um pouco de cada e saber que o teto de habilidade da Falke era baixo mas recompensava a simplicidade, não deu outra. Foi o alinhamento perfeito entre todas as situações!

Algum tempo depois de atingir o Gold, fui em busca da comunidade do jogo e encontrei algumas pessoas que me informaram sobre a importância de desenvolver um Anti-Air eficiente, tentar punir os erros dos oponentes etc. A partir daí, junto com dicas valiosas de vários “Senseis” de grupos que participei, consegui atingir o nível desejado no jogo.

League of Legends - arte de divulgação com diversos personagens
LOL foi a base utilizado pelo jogador para dar os primeiros passos em Street Fighter V

Beakman: Não que eu esteja desinformado. 😅 Porém, seria possível oferecer uma explicação aos nossos leitores sobre o conceito de um personagem que desempenha o papel de controlar a rota no jogo?

Senienne: Claro! No League of Legends, alguns conceitos (que não vou elaborar muito sobre) são extremamente necessários para que o atirador da equipe desempenhe o seu papel.

Alguns exemplos são: “Wave Control” (Controlar a onda de minions a seu favor); “Last Hitting” (Ter noção de quando acertar o último golpe no minion para conseguir Gold); Saber punir o oponente quando ele tentar “farmar” o seu minion etc.

No Street Fighter V, algumas coisas dessas podem ser facilmente traduzidas:

O oponente está sempre em busca de algo na partida, correto? Um Jump-in (pulo sobre o oponente para a entrada de um combo), talvez? Se você já entende que a possibilidade existe e o espaçamento está correto, as chances são muito altas. Tendo essa informação, você aguarda e consegue efetuar a punição ao seu oponente com um antiaéreo. Parecido com o conceito de punir o oponente ao abater um dos seus minions, não é? Você tem a informação por meio de intuição.

Existem várias situações em que este mesmo raciocínio é aplicado.

Beakman: O conceito é realmente intrigante e aponta para o que te diferencia como jogador. Agora nos conte, ao buscar o nível Gold em poucos dias e superar o desafio dos amigos, você enfrentou obstáculos. Pode compartilhar o maior desafio encontrado nesse percurso e como o superou?

Senienne: Hmm…

Considero que o maior obstáculo para o meu crescimento foi o netcode fato de que comecei com certas noções; tais noções me guiaram à escolha da Falke e, consequentemente, não consegui desenvolver um aspecto importante dos jogos de luta no geral: Execução de alguns movimentos especiais.

Cresci de forma exponencial nos primeiros 3 meses, chegando a atingir o Master em apenas 45 dias de jogo. Enfrentei oponentes fortíssimos, tive experiências excelentes com jogadores de nível altíssimo, mas permaneci sem dar uma chance e estudar execução de forma proativa, já que a Falke não me cobrava tais aspectos. A partir desse período, continuei a aprender coisas incríveis, porém não conseguia desempenhar bem com outros personagens em função da falha na execução dos movimentos especiais.

Falke foi a escolha derradeira de Senienne para vencer uma aposta com os amigos

Beakman: Após isso, como foi o seu processo de aprimoramento na execução dos movimentos especiais? Poderia compartilhar um pouco sobre como você trabalhou nessas habilidades?

Senienne: Conheci jogadores de altíssimo nível na comunidade, então passei a aprender um pouco pelo que eu via/ouvia em streams; praticava nos treinos algumas situações-problema, como pulos em crossup (saltos com golpes visando as costas do oponente, o que exige a troca da direção da defesa), reagir a alguns moves com moves especiais/Critical Arts etc. Apesar de ter “Senseis” incríveis, me sentia um pouco frustrado em como os meus dedos não acompanhavam as minhas intenções (resultando em falha na execução do comando em momentos cruciais), então fui parando de praticar aos poucos.

Beakman: E quais foram os seus próximos passos, depois que tomou essa decisão de parar de praticar?

Senienne: Hmm… Só segui a jogar mesmo, sem muita pretensão. Naquele momento eu não tinha muito uma ideia, só pensava em me divertir e melhorar como consequência.

Beakman: E como foi equilibrar a mentalidade de se divertir, mas também buscar evoluir no processo?

Senienne: Bem… Admito que foi meio caótico no meio do caminho, porque no final das contas, a diversão estava atrelada à competitividade e, como todos nós sabemos, é sempre frustrante perder. No caso do SFV, como já estava enfrentando pessoas de altíssimo nível, essa frustração foi se esvaindo aos poucos… O que restava era apenas a decepção com o netcode do game, já que este impedia o acesso às boas partidas com os melhores players do país.

Beakman: Entendido. Mudando um pouco de assunto, quais jogos atuais têm chamado a sua atenção em termos de competição?

Senienne: Street Fighter 6, com absoluta certeza. Também tenho interesse no cenário futuro do Tekken 8, em especial porque sempre fui um espectador ávido da cena Tekken.

Beakman: Aparentemente, esses dois jogos são bem diferentes, não é? No entanto, para alguém que trouxe conceitos do League of Legends para o Street Fighter V, acredito que você se adapte bem a ambos. Mas, para pessoas menos familiarizadas, como eu, quais seriam as principais distinções entre se dedicar a um jogo de luta 2D e um 3D?

Senienne: Bem… Eu não sei te informar exatamente, pois sou apenas espectador da cena Tekken, mas… Julgando com base no pouco que entendo, imagino que o maior obstáculo imediato para um jogador adaptado ao mundo 2D fazer uma transição para o mundo 3D é a imensa variedade de golpes disponíveis:

Em jogos 2D, temos uma cadeia de golpes extremamente simples e bem coordenadas, como “baixo + LP/MP/HP/LK/MK/HK” (socos fraco/médio/forte, chutes fraco/médio/forte). Simples assim, já consegui mapear praticamente todos os comandos que utilizam o direcional para baixo em jogos 2D.

Em jogos 3D, toda a situação muda, pois a depender da posição do personagem (de frente ou de costas), se o personagem tem alguma stance (posição de espera, na qual é possível executar golpes adicionais), se inclui diagonais, se o personagem está próximo a algo possível de interagir, como uma parede, sai um golpe diferente. É um mundo diferente, com toda certeza.

Beakman: E quais são as semelhanças que você nota entre esses dois universos?

Senienne: Eu diria que parte um pouco do instinto que todo jogador de Fighting Games tem. A antecipação, a organização dos combos, a dinâmica de cada batalha… Creio eu que são os pontos em comum que me levam a acreditar que (quase) todo Fighting Game tem semelhanças em seu estado natural.

Tekken 8 é um dos games de luta mais esperados por Senienne

Beakman: Fica claro que a mentalidade desempenha um papel essencial no sucesso dos jogadores, concorda? Nesse sentido, você poderia compartilhar sua perspectiva sobre a importância da mentalidade nos jogos de luta?

Senienne: Entendo que, antes mesmo de compreender a capacidade mecânica do seu adversário, é importante antecipar a resiliência e adaptabilidade deste último. Entendo desta forma pois em altíssimos níveis, sobrevive o jogador que melhor conseguiu adaptar, e/ou se manter estável mesmo diante situações inesperadas dentro da partida. Adianto aqui que se adaptar durante uma partida é algo extremamente complexo e delicado, pois requer dedicação, intelecto e abstração suficiente para conseguir analisar o conteúdo da partida enquanto ela ainda está acontecendo. Grandes nomes como Tokido, Punk e Xiaohai são conhecidos justamente por isso.

Beakman: E quanto ao treinamento desses aspectos mentais? Mesmo que possamos não alcançar o nível desses jogadores de elite, é possível, com esforço, que todos melhorem, correto? Como você sugere que as pessoas treinem esses aspectos?

Senienne: Hmm… Imagino que seja um pouco complicado, pois tais qualidades são descobertas bem cedo, de um jeito ou de outro. No meu caso, percebi a existência destas habilidades e fui treinando desde criança com jogos variados, tipo Dragon Ball Budokai Tenkaichi 3 (imensa saudade desse jogo, inclusive), Budokai 3, Naruto Ultimate Accel 2 dentre outros. Creio que seja possível melhorar sim, mas apenas sob a percepção de que é necessário tempo, esforço e gosto pelo que está fazendo.

Beakman: Mudando um pouco o assunto. Você já trabalhou instruindo jogadores para que se desenvolvessem mais nos jogos de luta, inclusive eu já tive algumas aulas contigo. Ainda está oferecendo orientação para aqueles que desejam melhorar suas habilidades?

Senienne: Neste momento, não. Estou tocando outros projetos de vida e, infelizmente, não tenho mais tempo para continuar acompanhando jogos de luta do jeito que eu fazia antes, então não me considero apto a instruir pessoas para a dinâmica nova de jogos de luta, em especial o Street Fighter 6.

Beakman: Uma pena. Mas voltando a um ponto anterior da nossa conversa, você disse que a Falke tinha um “teto de habilidade baixo, mas recompensava a simplicidade”. Pode explicar melhor o que isso significa e como os jogadores podem usar essa informação ao escolher um personagem?

Senienne: Vamos lá… O que chamamos de Skill Ceiling, ou “teto de habilidade”, varia muito de acordo com a visão dos jogadores, mas os mais experientes geralmente concordam em certos critérios a serem analisados ao discernir se a skill ceiling de tal personagem é alta ou baixa:

A Falke é um excelente exemplo de um personagem com skill ceiling baixo, visto que ela sana vários fundamentos básicos com comandos simples, porém isto a torna muito simples, já que a curva de aprendizado em criatividade com a personagem estagna muito rapidamente. O que pode ser um ponto ruim, se visto desta forma, pode ser também um ponto muito bom para jogadores que sabem trabalhar com pouco: a Falke, por ter antiaéreos de fácil execução, facilita para o jogador trabalhar tal função sem precisar carregar “bandejas”; isto é, o jogador pode focar em outras situações específicas da luta naquele momento. E isto é ótimo para quem tem problemas em gerenciar muitas possibilidades, mas sabe trabalhar bem com as poucas disponíveis.

Beakman: Muito interessante a tua explicação, mas apesar do ótimo papo e da minha vontade em fazer mais umas 50 perguntas, nos aproximamos dos instantes finais da nossa conversa, como se estivéssemos prestes a iniciar o round final. Mas antes disso, eu não poderia deixar de te perguntar sobre o PROJETC L, o jogo de luta com personagens do League of Legends, algo que se relaciona com suas raízes como jogador. Qual é a sua perspectiva sobre esse projeto e quais são as suas expectativas a respeito dele?

Senienne: Haha! Saiba que se fosse por gosto, estaríamos aqui por mais 50 perguntas! 😁

Respondendo à pergunta… Minhas expectativas sobre o PROJECT L vão além da visão padrão sobre jogos de luta; o que me interessa de fato é a acessibilidade ao jogo e a possibilidade de ter uma nova luz dentro do cenário de Fighting Games no geral. Com a RIOT na jogada, novas pessoas virão testar a modalidade de jogo de luta de forma mais acessível, coisa que as grandes empresas do ramo ainda não conseguiram executar muito bem. Com isto, espero que toda a comunidade possa se beneficiar de novos jogadores, novos investimentos e uma perspectiva mais futurística a um gênero que, infelizmente, ficou preso ao tempo por muito tempo.

Senienne acredita que Project L possa ser uma nova luz dentro do cenário de Fighting Games

Beakman: É ótimo saber que você está disposto a responder a mais perguntas. E, com certeza, haverá mais oportunidades para conversas futuras, o que será um prazer. Para finalizarmos, de uma forma inspirada pelo League of Legends, um jogo de equipes, se você tivesse que montar um time com os seus 3 personagens favoritos de todos os jogos de luta já criados, quem seriam os seus escolhidos?

Senienne: Hm…

Beakman: Estamos nos aproximando dos últimos segundos da nossa conversa, como aqueles momentos finais de um round onde tudo pode acontecer. Antes de finalizarmos, quero passar o controle para você, o protagonista desta conversa, onde você pode compartilhar suas considerações finais, pensamentos ou falar qualquer coisa que desejar para a nossa comunidade. A palavra é toda sua!

E, em nome do site Round1 e de nossa comunidade de jogadores, quero expressar nossos agradecimentos mais sinceros por compartilhar sua valiosa experiência e perspectivas conosco. Foi uma conversa empolgante, e estamos ansiosos para mais “rounds” de conversas no futuro. Até breve, e que seus combos sempre estejam afiados!

Senienne: Eu que agradeço a toda a equipe da Round1! O momento foi incrível e fico feliz de estar colaborando, nem que seja um pouco, com a comunidade de Fighting Games, que me ajudou em momentos muito difíceis de minha vida. Agradeço de coração a vocês por disponibilizarem um espaço para esta entrevista. Estarei por aqui em outros momentos também, então no caso de haver qualquer oportunidade, estarei presente! Se cuidem e até uma próxima! 😁

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