Hoje iniciamos um novo quadro no Round 1: o “Entre Rounds”, no qual você poderá acompanhar entrevistas com algumas figuras memoráveis da cena de jogos de luta. E para iniciar este novo quadro, entrevistamos um dos maiores campeões em competições de anime fighting no Brasil: AmmySensei.
AmmySensei é um player experiente em anime fighting e um grande colecionador de títulos. Nas estatísticas presentes em seu perfil no Start.gg aparecem impressionantes 20 títulos em 39 participações, enquanto no Challonge são 69 títulos em 142 participações, o que dá uma média assustadora de um título a cada dois torneios jogados.
Ammy conta com participações em diversas franquias de fighting games, como BlazBlue, Persona, Under Night In-Birth, Guilty Gear e DNF Duel, mas sem dúvida seu maior destaque foi no Granblue Fantasy Versus, com títulos no Circuito Brasileiro de Granblue Fantasy Versus, em 2020, no Curto Circuito de GBVS, em 2022, e no Vortex Gallery 2023, tanto para consoles (PSN) quanto para PCs (Steam).
Confira o bate-papo entre AmmySensei e nosso repórter, Rodrigo “Beakman” Simões.
Beakman: Olá, Ammy! É um prazer tê-lo aqui. Para começar, poderia nos contar como você entrou no mundo dos jogos de luta? Qual foi o jogo que despertou seu interesse e te levou a se tornar um jogador de Fighting Games?
Ammy: Opa, o prazer é todo meu! Cara, o primeiro jogo de luta que me fez ter interesse em aprender e melhorar foi o Persona 4 Arena, de PS3. Foi com ele que eu decidi entrar nas comunidades, interagir, aprender frame data, e de fato me tornar um jogador que os outros pudessem ver e pensar “opa, esse cara é bom”.
Beakman: Interessante! Parece que o Persona 4 Arena realmente teve um impacto significativo! Gostaria de saber mais sobre como foi o processo inicial de aprendizado e treinamento para você? Como foi o seu primeiro contato com outros jogadores e como essa interação ajudou a moldar sua habilidade nos jogos?
Ammy: Meu contato inicial com outros jogadores foi trágico. Eu era amassado de todas as formas possíveis, parecia um saco de pancadas. Aí eu saía das partidas e só pensava “pode deixar que na próxima eu vou te partir em dois e depois em três” em relação ao meu oponente.
Eu sentia uma vontade de ter a revanche, a vingança, que ia na hora treinar e assistir partidas de jogadores melhores do que eu para, na próxima vez, sair vitorioso. Nesse sentido, eu acho que enfrentar jogadores que me quebravam foi uma excelente motivação para voltar mais forte e me tornar melhor.
Beakman: Parece que esses desafios iniciais realmente moldaram sua determinação e o impulsionaram! Imagino que relembrar dessa época o ajude a entender o que alguns oponentes podem sentir hoje ao enfrentá-lo. 😅 Agora nos conte: quando você sentiu que as coisas estavam mudando e que começou a enfrentar esses jogadores de igual para igual, ou até mesmo a superá-los? Como foi a sensação de evolução e superação?
Ammy: Eu começava a sentir as mudanças quando percebia mais frequentemente os erros que meus oponentes cometiam e punia eles por isso e via que eles ficavam mais desconfortáveis nas partidas; eu tinha uma sensação de “sucesso, treinei para isso e consegui fazer o que eu queria”. Aí eu acabava querendo mais, e continuava treinando pra manter e melhorar ainda mais meus resultados.
Beakman: Seu empenho realmente trouxe frutos, como demonstram os teus resultados. Fiquei especialmente intrigado quando mencionou como punia os erros dos seus oponentes e percebia o desconforto deles. Diante disso, gostaria de entender qual é, na tua opinião, a influência dos aspectos emocionais nos jogos de luta e como você aborda isso para garantir que eventuais erros em uma partida ou a habilidade excepcional de um oponente não afetem negativamente suas reações emocionais durante o jogo. Como você lida com esses aspectos para manter o foco e a calma?
Ammy: Eu procuro sempre entrar nas partidas pensando o seguinte: “Não é garantido que eu vou vencer, mas eu já tenho tudo que é preciso para vencer essa partida”. Assim eu evito o erro de subestimar meu oponente, mas mantenho a confiança em mim mesmo de tomar as decisões certas, aproveitar os momentos e finalizar o jogo.
Beakman: Quem vê os teus resultados nos últimos tempos entende bem quando você fala em aproveitar os momentos para finalizar o jogo. 😂 Você é, sem dúvida, um jogador que se tornou uma lenda da cena de Fighting Games, acumulando diversos títulos em campeonatos. Gostaria de voltar um pouco no tempo e perguntar: como foi a sensação da sua primeira conquista? Como você se sentiu ao vencer o campeonato? E agora, com tantas vitórias acumuladas, como você lida com cada novo desafio? O que te motiva a continuar lutando por novos triunfos?
Ammy: É sempre um sentimento de triunfo vencer um torneio, uma sensação de “foi para isso mesmo que eu treinei”. Eu me sinto bem jogando e gosto de ser reconhecido nos jogos ao qual eu me dedico. Sempre continuo indo atrás desse sentimento e desse reconhecimento.
Beakman: Pensando na sua busca por mais conquistas e vitórias, quais jogos você tem se dedicado atualmente?
Ammy: O jogo que mais tenho jogado atualmente é Granblue Fantasy: Versus, jogo desde que lançou em 2020. Além dele também venho jogando Gundam Battle Assault 2, um clássico de PS1 que eu costumava jogar quando era criança, e que agora pode ser jogado online com rollback netcode.
Beakman: Muito interessante! Pelo que me lembro, e por favor me corrija se eu estiver enganado, esses jogos possuem mecânicas e jogabilidade bastante distintas, não é mesmo?
Ammy: Sim, são extremamente diferentes um do outro. Granblue é um jogo relativamente “pé no chão”, com mobilidade terrestre, knockdowns, pressão forte e muita presença de combos. Já o Gundam é jogo mais aéreo, com combos mais limitados e um forte foco em esquivas, controle de tela e neutro de média a longa distância.
Beakman: Explorar dois títulos com mecânicas e propostas tão diversas, têm um impacto positivo no seu desenvolvimento geral como jogador? Como você consegue harmonizar essas diferenças entre jogos distintos, de modo a se divertir e continuar aprimorando suas habilidades simultaneamente?
Ammy: Não é muito diferente de aprender uma segunda língua; você usa os conhecimento que tem em uma para aprimorar seu aprendizado na outra. Mesmo sendo muito diferentes, alguns conceitos sempre se repetem entre jogos de luta, como footsies, baits, zoning e outras ideais similares. Quando comecei no Gundam Battle Assault 2, utilizei conhecimentos que tinha de Granblue para aprender o jogo mais rápido; quando voltei a jogar Granblue, utilizei coisas que aprendi no Gundam para elevar meu jogo.
Beakman: Essa comparação entre aprender uma segunda língua e assimilar a jogabilidade de jogos distintos certamente facilita a compreensão do conceito para todos. Agora, por favor, compartilhe conosco: você mencionou que começou no mundo das disputas com Persona 4 Arena no PS3 e, atualmente, desfruta de títulos como GranBlue Fantasy Versus e de um jogo retrô, Gundam Battle Assault 2, que apresenta mecânicas de rollback, uma forma relativamente nova de conectividade online. Poderia nos falar a sua visão sobre as evoluções que testemunhou nos jogos desde o seu início como jogador até os dias atuais? Como você vê o suporte das empresas e, especialmente, de que forma a interação entre os jogadores e a organização de partidas amigáveis e campeonatos têm evoluído ao longo do tempo, desde o seu início até o momento presente, na sua visão?
Ammy: Eu acredito que as comunidades tenham evoluído bastante na questão de organização e compartilhamento de informações, antes os grupos eram menores e mais esparsos, a comunicação era mais difícil. Hoje em dia existem grupos tanto de Discord quanto de WhatsApp (eu prefiro Discord :v ) que facilitam encontrar partidas, organizar torneios, ajudar iniciantes e compartilhar informações sobre os jogos (frame date, matchups, etc.), deixando tudo mais conveniente. As empresas também estão gradualmente percebendo a importância de certos aspectos formais dos jogos de luta, como rollback netcode, matchmaking de qualidade e crossplay, o que ajuda ainda mais a união das cenas dos jogos de luta.
Beakman: Você mencionou estar dedicado ao Granblue Fantasy: Versus, e considerando que o jogo está disponível para PC e PS4/PS5, a falta de crossplay impede que as comunidades de cada plataforma se enfrentem diretamente. Entretanto, observei que você tem participado ativamente de ambas as comunidades. Embora tenha acompanhado de perto suas conquistas e títulos na comunidade de jogadores de console, admito que minha presença na cena do PC é um pouco mais limitada. Seria ótimo se você pudesse compartilhar mais sobre sua relação com o jogo, suas realizações frente a jogadores tão talentosos como os da comunidade de Granblue, e como tem sido essa experiência de jogar em mais de uma plataforma. Além disso, seria interessante fazer um paralelo entre sua trajetória na comunidade de PS4/PS5 e essa nova dinâmica no PC. Há diferenças notáveis?
Ammy: Eu comecei jogando no PS4, inicialmente eu jogava de Ferry, e consegui me sair bem com ela vencendo alguns torneios e a primeira liga realizada em 2020 no PS4. Eventualmente troquei para o personagem Vaseraga e continuei treinando e sempre tentando melhorar, pois meus oponentes estavam fazendo o mesmo. Participei frequentemente dos torneio de PS4 organizado pelo ShiroAoi e acredito ter me saído muito bem no geral, o jogo havia certamente “clicado” comigo.
Em 2022 migrei para o PC, onde a comunidade é ainda maior. Encontrei novos oponentes que me forçaram a adaptar a vários estilos de jogo, e inclusive resolvi aprender um novo personagem, o Seox.
Após engolir algumas derrotas amargas pelo caminho, alcancei o nível que queria ao participar da Vortex Gallery, um evento internacional separado por regiões, e vencer os torneios de Granblue tanto no PS4 quanto no PC.
Beakman: Vencer em ambas as plataformas é realmente um feito notável, considerando a presença de jogadores de altíssimo nível em cada uma delas. Os torneios de PS4/PS5 sei que foram a nível nacional, mas gostaria de confirmar: o torneio de PC também foi a nível nacional? Além disso, você mencionou o Vortex Gallery, um torneio internacional. Seria possível aprofundar um pouco mais sobre eles, especialmente sobre o Vortex Gallery, para que nossos leitores tenham uma compreensão mais detalhada sobre o calibre de competição que você enfrentou?
Ammy: Sim, o torneio de PC também foi a nível nacional. A Vortex Gallery é um evento que envolve vários jogos de luta, onde diversas regiões realizam torneios online desses jogos. Os torneios são geralmente organizados para que todas as transmissões possam ser assistidas sem prejuízo umas das outras. Assim, quando você participa de um torneio da Vortex Gallery, não apenas a cena do seu país está assistindo você jogar, como também as comunidades de todas as regiões do mundo. Não é tão grande quanto uma EVO da vida, mas é um momento que realmente requer todo o seu preparo e foco na hora do jogo.
Beakman: Continuando a conversa sobre Granblue, estou curioso a respeito das suas impressões sobre a sequência do jogo, Granblue Fantasy Versus: Rising, que está prevista para lançamento em 2023. Primeiramente, gostaria de saber sobre a sua experiência com o beta do jogo, que a empresa disponibilizou recentemente para os jogadores. Como foi para você mergulhar nesse beta e explorar as novidades? Além disso, considerando que essa nova versão do jogo contará com crossplay, possibilitando que jogadores de console e PC se enfrentem, estou interessado em saber quais são suas expectativas para as futuras disputas no jogo. Como você enxerga a ampliação da comunidade e o aumento do nível de competição com essa inclusão do crossplay? Como acredita que isso irá impactar a cena competitiva de Granblue Fantasy Versus: Rising?
Ammy: Pessoalmente não tive uma impressão boa do primeiro beta, achei algumas mudanças extremas e outras “pouco-polidas”. No entanto, sendo apenas o primeiro beta, é natural que o jogo esteja extremamente cru, e confio que a empresa por trás do jogo esteja atenta ao feedback dos jogadores para melhorar a experiência dos jogadores.
Quanto ao crossplay, acredito que será excelente para a comunidade, pois o número maior de jogadores resultará em maior evolução por parte dos mesmo e um aumento considerável no nível de jogo.
Beakman: É interessante mesmo observar essa evolução contínua dos jogadores e provavelmente o novo Granblue trará isso com ele. Em um ponto anterior da nossa conversa, você abordou o progresso das comunidades e dos grupos ao longo dos anos, destacando a importância da assistência aos iniciantes. Considerando esse contexto, seria valioso se você compartilhasse algumas dicas com aqueles jogadores que estão começando ou que, por qualquer razão, ainda estão buscando um desenvolvimento mais sólido. Que orientações você daria a jogadores que almejam a satisfação de se sentirem confiantes e preparados para enfrentar outros competidores? Como podem trilhar o caminho para alcançar essa sensação de evolução e realização no jogo?
Além disso, aproveitando a pergunta, tenho certeza de que todos os nossos leitores estão interessados em conhecer mais sobre o seu processo de treinamento atual. Como alguém que se tornou uma referência na cena, como você, molda o seu treinamento para se manter no topo e continuar aprimorando suas habilidades? Quais estratégias ou métodos você utiliza para se manter competitivo e lidar com novos desafios?
Ammy: Acredito que algo muito importante para quem está iniciando em jogos de luta é entender que derrotas fazem parte do caminho. Ao invés de deixar a frustração da derrota te derrubar, é importante tentar entender o motivo de você ter perdido, e procurar “consertar” os erros que você cometeu; pessoalmente eu gosto de assistir partidas de jogadores que considero melhor do que eu para ver como lidam com as situações que eu me deparei e pegar novas ideias através do jogo deles.
Também não tenho vergonha de ficar chamando o oponente que me derrotou para jogar frequentemente, para que eu possa pessoalmente encontrar as soluções que sinto precisar. Foi isso que fiz para poder vencer a Vortex Gallery.
Vou reforçar também que sofrer derrotas nesse processo também é normal; prefiro perder dúzias de vezes testando ideias diferentes para entender bem a situação do que ficar várias partidas estagnado na “mesmice”, sem progresso ou evolução.
Beakman: Para finalizarmos, gostaria de explorar uma ideia um tanto peculiar: imagine um cenário hipotético no qual um super jogo de luta crossover é criado, permitindo a seleção de qualquer personagem de Fighting Game já desenvolvido. Agora, visualize-se participando de um torneio mundial nesse jogo, enfrentando todos os melhores jogadores do mundo. Diante desse grande desafio, qual seria o personagem que você escolheria para ser seu aliado nessa busca pela glória? Quem, na sua visão, seria o parceiro ou parceira perfeita para encarar os outros oponentes e guiá-lo rumo à vitória nesse épico torneio imaginário?
Ammy: Meu parceiro ideal para esse jogo seria, sem dúvida alguma, meu personagem de Gundam Battle Assault 2: o Gundam Deathscythe Hell Custom.
Beakman: Ammy, em nome do Round 1 e de toda a nossa comunidade, gostaria de expressar nossa sincera gratidão pela sua generosidade em conceder esta entrevista. Espero que tenha gostado tanto quanto nós e que, em ocasiões futuras, possamos nos encontrar novamente para mais conversas, afinal, não faltam perguntas a serem feitas a jogadores da sua genialidade.
À medida que chegamos ao encerramento desta entrevista, queremos disponibilizar este espaço para você compartilhar o que desejar com nossos leitores e membros da comunidade. Suas palavras finais são muito bem-vindas e oferecerão uma perspectiva enriquecedora para todos nós. O microfone virtual agora é todo seu.
Ammy: Muito obrigado pela atenção, fera, sempre estarei disposto para uma boa conversa!
Para finalizar, só quero reforçar que o caminho para melhorar em jogos de luta nunca é fácil, pois os seus oponentes têm tanta vontade de alcançar o topo quanto você. Quem chega lá não é o jogador que nunca cai, é o jogador que sempre se levanta!
P.S.: Joguem Gundam Battle Assault 2