Para nós, amantes dos jogos de luta, passar pelos fliperamas, jogar ou apenas observar os outros jogando era um verdadeiro evento. Mesmo quando não tínhamos dinheiro para jogar, nos encantávamos com a habilidade dos outros jogadores. Ficávamos olhando e sonhávamos com o momento em que seria a nossa vez de mostrar do que éramos capazes.
Nem todos os jogadores tinham a sorte de ter um videogame em casa, principalmente os poderosos Neo Geo, Playstation, Sega Saturn ou Nintendo 64, que traziam em suas bibliotecas algumas das melhores conversões dos arcades nos anos 90. Aqueles que tinham um console, geralmente eram felizes com os seus aparelhos de 16 e 8 bits, não recebendo a maioria das conversões dos fliperamas, e essas, quando vinham, ou eram com muitos cortes ou versões bem distintas das originais.
Mas um dos jogos de luta mais famosos dos anos 90 teve uma conversão que ficou restrita apenas a um console, sendo este na época já da antiga geração. Vamos conhecer a história do porte de Killer Instinct para o SNES e descobrir o motivo pelo qual o jogo ficou restrito apenas ao console de 16 Bites da Big N.
Killer Instinct fez sua estreia triunfal nos fliperamas em 1994, exibindo gráficos deslumbrantes, alguns efeitos em 3D notáveis, especialmente nos cenários, e uma jogabilidade rápida, fluída e brutal. O jogo cativou os jogadores com seus personagens carismáticos e combos espetaculares, conquistando um brilho único que o distinguia de outros títulos como Street Fighter II ou Mortal Kombat, embora também apresentasse finalizações, assim como os icônicos fatalities da série MK.
A história do primeiro Killer Instinct se desenrola em um cenário futurista, onde uma enigmática organização chamada Ultratech promove um torneio brutal conhecido como “Killer Instinct”. Essa competição tem um único propósito: atrair os lutadores mais habilidosos do mundo, visando testar e aprimorar os guerreiros cibernéticos criados pela Ultratech, com destaque para sua criação mais poderosa: Fulgore.
Os guerreiros que participam do primeiro KI são os seguintes:
Jago: Monge tibetano com incríveis habilidades de luta, utiliza seu bastão de metal para executar movimentos rápidos e poderosos, tendo uma conexão espiritual com um tigre branco chamado “The Tiger Spirit”, que lhe concede poderes especiais durante as batalhas. | |
Orchid: Agente secreta que luta para acabar com a organização maligna Ultratech. Lutadora versátil, combinando movimentos ágeis com ataque de bastões. | |
Glacius: Um alienígena capturado pela Ultratech depois de cair na Terra. Glacius tem a capacidade de controlar o gelo e moldá-lo em várias formas, incluindo lâminas afiadas. | |
Thunder: Um nativo americano que busca vingança contra a Ultratech devido ao desaparecimento de seu irmão, Eagle. Thunder utiliza um pequeno machado, desferindo golpes brutais em seus adversários. | |
Sabrewulf: Um lobisomem que busca a cura para a licantropia. Com seus golpes poderosos e garras afiadas, Sabrewulf pode aniquilar seus oponentes em poucos segundos. | |
Spinal: Um esqueleto de um antigo guerreiro que foi reanimado com poderes misteriosos por meio de projetos secretos da Ultratech. Spinal possui ataques sobrenaturais, incluindo invocação de projéteis e teleportes. | |
Riptor: Criado com a bioengenharia da Ultratech, é um dinossauro com tecnologia de combate. Riptor é um personagem ferozmente ágil, que usa sua força e garras para aniquilar quem estiver em sua frente. | |
TJ Combo: Um boxeador ex-campeão mundial que foi retirado do circuito profissional devido à brutalidade com que finalizava seus adversários em combate. Ele entrou no torneio Killer Instinct com a intenção de recuperar riqueza e fama. | |
Cinder: Um criminoso que participa de experimentos científicos da Ultratech. Como resultado, seu corpo fica envolto em chamas, tendo a capacidade de manipular o fogo. Ele busca vencer o torneio para não ter que mais pagar pelos seus crimes. | |
Fulgore: Um ciborgue avançado projetado pela Ultratech para ser a máquina de matar perfeita, sendo criado um exército a partir dele. Com sua armadura robótica, Fulgore possui uma variedade de ataques de energia, sendo totalmente brutal. | |
Eyedol: O chefe final do jogo, Eyedol, é um ser bestial de duas cabeças. Sua origem ao certo é desconhecida, mas o que se sabe é que ele era um ser humano comum que também se tornou uma das experiências da empresa Ultratech, originando o ser brutal que é o maior vilão do jogo. |
Combo Breaker: uma jogada matadora
Killer Instinct possui combos devastadores e finalizações, cada um recebendo um nome bem específico, de acordo com suas características ou quantidade de hits. São eles:
- Triple Combo: 3 Hits.
- Super Combo: 4 Hits.
- Hyper Combo: 5 Hits.
- Brutal Combo: 6 Hits.
- Master Combo: 7 Hits.
- Awesome Combo: 8 Hits.
- Blaster Combo: 9 Hits.
- Monster Combo: 10 Hits.
- King Combo: 11 Hits.
- Killer Combo: 12 ou mais Hits.
- Ultra Combo: 20 ou mais Hits.
- Ultimate Combo: É um combo especial que o jogador, com o movimento específico, termina o combo com uma animação especial de finalização em seu oponente.
Além disso, o game possui dois tipos de finalizações: os fatais, conhecidos como “No Mercy”, e os “Humiliations”. Quando um oponente é vencido, ele fica alguns segundos em pé, em estado de tontura, de forma similar ao que ocorre em Mortal Kombat. Os fatais são movimentos especiais brutais de finalização, enquanto o “Humiliation” é uma humilhação onde o oponente é forçado a dançar. Cada personagem tem mais de um movimento de finalização.
Outra característica do jogo é a capacidade de, com a combinação correta de botões, interromper o combo do adversário, conhecido como “Combo Breaker”. Essa mecânica adiciona novas camadas de estratégia às lutas, permitindo que se possa reagir e interromper combos longos e fatais que se esteja sofrendo em meio à luta.
Para vencer o oponente era necessário acabar com duas barras de energia. O jogo não era dividido em rounds tradicionais, onde cada personagem retorna para o próximo com suas barras de vida cheias. Quando uma barra era consumida, havia uma pequena pausa e o próximo round era iniciado, com o personagem vencedor continuando com o mesmo life. Após perder totalmente as duas barras de vida, também era possível desferir uma sequência específica para “ressuscitar” e voltar à luta com o mínimo de barra de vida.
A conversão para os consoles caseiros
Killer Instinct foi desenvolvido pela Rare para os arcades e, devido a um acordo que a desenvolvedora da franquia Donkey Kong Country tinha com a Nintendo na década de 90, o jogo não seria portado para nenhum console das empresas concorrentes. Originalmente, o jogo seria portado para o Nintendo 64, mas devido à demora no lançamento do novo hardware da Nintendo, a equipe teve que optar por desenvolver uma versão para o SNES. Apesar dessa mudança, o jogo adaptado para o console de 16 bits da Nintendo continua sendo uma verdadeira obra de arte, mantendo o charme característico da Rare dos anos 90. Embora alguns cortes de animação e simplificação dos sprites tenham sido necessários, a essência de Killer Instinct ainda brilha, proporcionando aos jogadores uma experiência memorável.
Diferentemente de outras franquias famosas na época, como Street Fighter e Mortal Kombat, que receberam portes de seus jogos nos consoles de 16 bits e nos recém-lançados PlayStation e Saturn de 32 bits, e franquias da SNK, que em sua maioria receberam portes bastante fiéis para os consoles da Sony e da Sega, além do Neo Geo AES e CD, para jogar Killer Instinct no conforto de casa, a única opção era a versão de Super Nintendo – lembrando que alguns portes da SNK, como Fatal Fury e Art Of Fighting, receberam conversões competentes e divertidas para o Super Nintendo e Mega Drive (Genesis).
Após o lançamento de Killer Instinct 2 e a chegada do Nintendo 64, apenas o segundo título foi convertido para o 64 bits da Nintendo, sob o título de Killer Instinct Gold, o que manteve o primeiro jogo exclusivo do SNES. Diferentemente do título de lançamento, sua continuação não obteve nem de longe o mesmo sucesso. Em um mercado sem lojas digitais e com a escolha da Nintendo por continuar com o uso de cartuchos no N64, a conversão tardia do primeiro título foi desconsiderada.
Nos fliperamas, “Killer Instinct” fazia uso de alguns efeitos de rotação em 3D, tanto nos cenários como na tela de seleção de personagens. Para algumas pessoas, a rotação na tela de seleção pode parecer exagerada, como se tivesse a intenção de apenas mostrar o potencial da placa onde o jogo estava rodando. A velocidade frenética dessa rotação pouco permitia visualizar os detalhes dos personagens na tela de seleção. Por outro lado, na versão para o SNES, a rotação foi deixada de lado, tornando a escolha dos personagens muito mais agradável e acessível.
A conversão de SNES possui gráficos lindos, uma jogabilidade frenética, personagens com personalidade e uma trilha sonora arrasadora. Essa trilha sonora, inclusive, ficou bem famosa e vinha em CD junto com o famoso cartucho de cor preta. O único ponto que pode ser considerado negativo na versão do console de 16 bits da Nintendo é justamente a política de censura da empresa em relação à violência nos jogos. Por causa disso, a versão de Killer Instinct teve algumas modificações em suas finalizações, embora nem todas tenham sido alteradas. Essas mudanças foram feitas para tornar os efeitos de finalização menos impactantes em alguns casos, mas de forma alguma isso desabona o jogo.
Alternativas à versão de Super Nintendo e o fim da exclusividade
Killer Instinct não era um arcade muito comum de se encontrar, nem muito acessível para os donos de fliperamas brasileiros, especialmente em locais pequenos que tinham apenas uma ou duas máquinas. Nessas situações, franquias como Street Fighter, Mortal Kombat e The King of Fighters eram mais populares e disponíveis. Por essa razão, é muito comum encontrar pessoas que jogaram o game no Super Nintendo, mas nunca tiveram a oportunidade de experimentar a versão de arcade. Além disso, a versão original do jogo possui um processo de emulação mais complexo, tornando a versão de SNES mais acessível para quem quer curtir o game em emuladores.
Com toda a certeza, Killer Instinct está entre os melhores games do SNES, não ficando atrás dos ports mais famosos para o sistema – a AllGame e a Nintendo Power avaliaram KI com 4,5 estrelas, enquanto a EGM (Electronic Gaming Monthly) avaliou com 7.5/10. O game também foi portado para o Game Boy, em uma versão portátil bastante agradável e com boa recepção: 91/100 pontos na Official Nintendo Magazine.
Killer Instinct 2, lançado em 1996, ficou longe do sucesso de seu primeiro título e, posteriormente, foi portado para o Nintendo 64, com uma versão intitulada Killer Instinct Gold. Porém, essa versão também não teve um sucesso próximo ao do jogo portado para o SNES, com recepções mistas – a AllGame deu 2,5 estrelas, enquanto a rigorosa Next Generation deu apenas duas estrelas, enquanto que na outra ponta, a Game Informer deu generosos 8.5/10 pontos.
A série só voltou aos holofotes e teve novo sucesso em 2013, com um reboot lançado nos consoles Xbox e PCs. O lançamento do reboot trouxe consigo, apenas na versão de console da Microsoft, as duas primeiras versões dos jogos, sob os títulos de Killer Instinct Classic e Killer Instinct 2 Classic, permitindo que os jogadores tivessem a chance, quase 20 anos depois do lançamento, de curtirem o game original de forma caseira em outra plataforma que não fosse o SNES.
A versão mais recente do Killer Instinct está disponível para Xbox One e PC.